A verdadeira amizade não é serena



Disse alguém que "a verdadeira amizade não é serena", referindo-se ao fato que o verdadeiro amigo, não tem medo de te confrontar quando percebe que você está fazendo algo errado e ele quer te aconselhar ou mesmo, possui opinião contrária a sua.
Concordo com este pensamento. Sempre desconfiei que quem fica ao lado de alguém, sem nunca emitir uma opinião contrária em momento alguém e, pelo contrário, passa 100% do tempo elogiando as decisões do outro, não é amigo. É sim um bajulador.
Bajuladores, babam falsamente aos seus pés, somente enquanto tudo está indo bem. Quando você está com dinheiro, sucesso e felicidade. Bajuladores, correm para longe no exato instante que as coisas ficam pretas para o bajulado.
Pois bem, a amizade com Deus também não é serena, pacata e sem confrontos.
Ele é misericordioso? Sem dúvida que é, porém, enfia o dedo na sua cara quando ele sabe que você está fazendo algo errado.
A primeira vez que tive a certeza disso, creio que foi quado estava para fazer 18 anos.

Como Deus tinha me abençoado com o nascimento em uma família maravilhosa, onde os irmãos são unidos e os pais, inteligentes e até especiais, por mesmo, com pouca instrução, sempre incentivarem os estudos, eu devorava livros, lia tudo que caia em minhas mãos. Assim quando estava faltando uns 15 dias para completar 18 anos eu já me achava o "inteligente", o "super".
Já tinha sofrido um pequeno acidente, anos antes, que me deixou com uma cicatriz circular no joelho esquerdo.
Minha personalidade era uma massa conflitante de excesso de conhecimento, timidez mórbida,  TOC por organização, perfeccionismo e excesso de beleza.
Isso me angustiava, eu desejava ir além, Queria ser mais e estava começando a caminhar para o lado errado, na época eu não sabia disso. Achava que minhas escolhas eram 100% certas. Não recuava nunca.
Hoje sei que algo de ruim poderia acontecer se eu continuasse sendo como era. Talvez me tornasse apenas um super rabugento arrogante? Sim, talvez! Contudo, poderia me tornar algo pior, já que começava a pensar que poderia ser "a luz".
 Eu reclamava da vida limitada que tinha, Reclamava por Deus ter deixado uma cicatriz tão estranha em meu joelho esquerdo, em um corpo que era perfeito. Cheguei até a pensar, se eu tivesse uma igual no joelho direito, combinariam.
Foi então, que Deus, me chamou para bater um papinho com Ele,
Era um sábado especial, em outubro de 1996.
Trabalhei até o meio dia, de mobyllete, pelas ruas da cidade, como cobrador das Lojas Riachuelo.
Estava com a mobyllete do meu irmão, pois a minha, tinha quebrado no dia anterior.
Depois de ir na casa de um amigo e discutir  por ele demorar demais para terminar de aprontar a moto dele para sairmos, decidi, sair sozinho. Nem desconfiava que Deus já tinha preparado o convite para nossa reunião e ela estava para acontecer, dali a alguns segundos.
Não corria demais, não desrespeitava regras de trânsito, pelo contrário. Era fanático por regras, normas, leis, instruções. Tanto que era o interpretador oficial de manuais de produtos e jogos, para a família e para os amigos. Talvez, isso também estivesse colaborando para eu começar a me achar "a luz", afinal era eu o cara que "dizia as leis".
Segui,sozinho, para a casa de umas amigas.
Quando estava na esquina da casa delas, que ficava na "boca" de um pontilhão, eu, que estava descendo a rua principal, olhei para trás, instintivamente e procurei ver algum carro chegando na mesma faixa que eu estava. Como não havia nenhum, atravessei as duas mãos e embiquei para a rua da esquina da casa das amigas.
Fu pego na lateral esquerda, por um voyage azul escuro que eu não tinha prestado atenção que descia a alta velocidade pela faixa contrária.
Com o impacto, minha perna esquerda, abaixo do joelho foi esmigalhado, prensado entre o parachoque do carro e a lateral da mobyllete. Na época não era obrigatório o uso de capacete, então, minha cabeça também ficou machucada.
Não lembro de nada do que aconteceu, desde o momento que sai da casa do meu amigo.
A chamada "memória recente" foi apagada pela violência do acidente, antes de ser gravada na "memória permanente". O que sei do acidente, me relataram depois.
A Mobyllete, ficou presa debaixo do carro, o que impediu qualquer tentativa que o motorista pudesse ter de fugir do local. Eu tinha sido arremessado para o alto, e pelas Mãos de Deus, aterrisado sobre a calçada. Como resultado, tinha, cortes na cabeça, esfolações grandes nas costas na altura da cintura, faltava um belo bife do meu ombro esquerdo, a perna esquerda moida sem fratura exposta, por não ter sobrado lasca suficiente para isso, e um ferimento muito especial no meu joelho direito.
Enquanto meu corpo, era socorrido pelas pessoas que estavam por lá, colocavam ele no carro do cara que colidiu comigo e corriam para a Santa Casa, eu já estava ouvido Deus.
Como bom amigo, que é, a conversa não foi serena.
Mini flashback da minha vida, contagem dos meus erros, orientações, correções e um acordo.
Uma segunda chance! (nem sabia que ia precisar de outras chances depois)
Eu poderia voltar, porém, deveria fazer mais pelos outros, ajudar mais as pessoas, afinal, a verdade verdadeira é que ninguém está nasce para que o mundo gire ao redor dele.
Pensa que acatei de pronto? Lógico que não!
Sabia a condição do acordo. Ela tinha sido redigida por Deus, diretamente no meu coração. Era parte de mim, agora, porém, eu exitava.
Voltei para meu corpo. Fui socorrido, hospitalizado, suturas apenas para estancar o sangue foram feitas na minha cabeça e joelho direito apenas para estancar o sangramento,
O médico que apareceu queria amputar, (A tabela do SUS na época pagava mais por uma amputação do que por uma restauração de membro)
Enquanto não chegava um familiar para autorizar a cirurgia, fui deixado em uma maca,
Talvez fosse largado lá até morrer por pessoas que estavam cansadas dos "motoqueiros baderneiros".
Esse lição eu já tinha aprendido em casa, com meus pais: Não julgar pelas aparências!
Agora eu estava prestes a ser vítima do julgamento errado.
Quando chegou meu tio "Lando", já que meu pai estava viajando e disse que era tratamento particular começaram a aparecer os médicos e as soluções.
Um médico queria usar próteses metálicas, substituir definitivamente boa parte dos ossos da canela por metais. Alegava como vantagem que em dois dias eu poderia ter alta em uma semana já estaria andando.
Hoje vejo claramente, o dedo de Deus, ali, em cada ato, cuidando para que a solução final fosse a necessária, Na época, porém, era tudo desesperador, assustador.
Chegou então um outro médico (Dr. Luiz Gonzaga), com uma proposta diferente, dizendo: - Este rapaz nem fez 18 anos. Pensem no que pode ser da vida dele no futuro, quantos traumas se o amputarmos agora, como será a vida com as proteses, Tendo que troca-las de tempo em tempo, ao longo de toda uma vida e viver com limitações?
Foi assim que fui submetido a uma cirurgia nova, pelo menos na cidade.
Minha perna foi reconstruída aos poucos, semana a semana, ao longo de vários meses.
Era o tempo que eu necessitava para acordar para a nova vida.
Era a forma que Deus, me deu para ter esse tempo.
Meses, com crises de revolta, momentos de reflexão, meditação, mentalização e um objetivo, me levantaram primeiro do limbo, depois da cama, em seguida da cadeira de rodas e finalmente, das muletas.
Quando estava de pé, não era mais a mesma pessoa. Algo estava mudado em mim.
Tanto que um dos primeiros pensamentos era de constituir uma família e outro era o de ser útil para a sociedade.
Asism como quando um amigo nos pega pelo ombro e dá um chachoalhão quando estamos fazendo besteira, Deus, fez comigo.
O acidente não foi culpa de outra pessoa, não foi praga jogada, não foi inveja de alguém não foi nada além do fato de eu necessitar um chacoalhão.
Não sei se todo acidente é assim. Sei que o meu foi. Também não foi o último "problema" na minha vida. Precisei de outros chacoalhões até chegar onde cheguei.

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